O que Significa: Acomodação

O que Significa: Acomodação

Caro leitor, neste estudo acadêmico, abordaremos o significado da palavra “acomodação” no contexto teológico e filosófico. Acomodação é um conceito que se relaciona à linguagem e à forma como descrevemos Deus, entidades espirituais e a natureza ao nosso redor. Será apresentada a etimologia e a origem dessa palavra, e serão explorados exemplos de acomodação presentes na Bíblia Sagrada e em outros textos.

A Etimologia e Origem da Acomodação

Acomodação tem sua origem no latim “accommodatio,” que significa “adaptação” ou “ajustamento”. No contexto teológico, a acomodação refere-se à utilização de termos e sequências antropomórficas ou testemunhas para descrever Deus, entidades espirituais e a natureza. Essa prática visa tornar compreensível e acessível a revelação divina aos seres humanos, que possuem limitações intelectuais e espirituais em sua busca pela verdade.

Acomodação na Linguagem Teológica

  1. Descrição de Deus e Entidades Espirituais: Acomodação é uma técnica linguística utilizada para descrever Deus e entidades espirituais. Embora Deus seja transcendente e incompreensível em sua plenitude, utilizamos termos antropomórficos e humanos para expressar conceitos sobre Sua natureza. É importante lembrar que Deus não é semelhante ao homem, mas certas características humanas podem nos fornecer insights sobre Sua pessoa.
  2. Descrições da Natureza: Acomodação é aplicada também quando descrevemos a natureza ao nosso redor. Por exemplo, falamos que o sol se levanta e se põe, embora saibamos que esse fenômeno é resultado dos movimentos da Terra. A linguagem é adaptada às aparências, facilitando nossa comunicação e compreensão do mundo.
  3. Interpretação da Bíblia: Acomodação de linguagem é frequentemente empregada quando interpretamos a Bíblia ou outros textos sagrados. Certos trechos, como os símbolos apocalípticos, podem requerer uma abordagem não literal para compreender a mensagem essencial. Um exemplo notável é o de Abraão oferecer Isaque, que é interpretado como um exemplo de obediência, mas não uma aprovação de satisfações infantis.
  4. Significações Duplas: alguns trechos proféticos apresentam significados duplos, o que resulta em uma acomodação da narrativa para aulas múltiplas verdades. Essa prática permite que o texto transmita ensinamentos profundos e simbólicos, além de sua interpretação literal.
  5. Termos e Ideias Pagãs na Bíblia: A Bíblia, em certas ocasiões, utiliza termos e conceitos pagãos, porém, revestindo-os de uma perspectiva judaica ou cristã. Um exemplo disso é a doutrina do Logos, presente em João 1.1, que possui paralelos com antigas cosmologias. Essas possibilidades possibilitam que a verdade seja comunicada por meio de conceitos compreensíveis para o público-alvo.

A Acomodação nas Escrituras e no Talmud

  1. Descrição de Deus e Entidades Espirituais: A Bíblia frequentemente utiliza linguagem antropomórfica para ilustrar os atributos de Deus, lembrando-nos que nossos recursos humanos são limitados para apreender sua natureza infinita. Isso nos desafia a ir além da superfície e contemplar a profundidade das características divinas. No entanto, é crucial compreender que Deus transcende tais comparações.
  2. Descrições da Natureza: encontramos exemplos de acomodação na descrição da natureza nas Escrituras. Expressões como “o sol se levanta e se põe” não são literais, mas sim surpresas que refletem nossa perspectiva terrena. Isso nos lembra que, enquanto somos parte da criação, devemos considerar aparências com discernimento.
  3. Interpretação Não Literal: A acomodação de linguagem é freqüentemente empregada quando uma interpretação literal não parece apropriada. Isso ocorre, por exemplo, nos símbolos apocalípticos e em passagens que envolvem alegorias e parábolas. Uma acomodação é usada para transmitir verdades profundas, mantendo a integridade das Escrituras e interpretando interpretações equivocadas.
  4. Significações Duplas e Acomodação Profética: Algumas passagens proféticas possuem significados duplos, e a acomodação é utilizada para comunicar essas profundas verdades. Esse método de interpretação reconhece que o texto bíblico pode ser alterado para princípios ensinados mais amplos e complexos.

Aplicação e Referências Bíblicas

A acomodação linguística é uma ferramenta essencial para a compreensão da revelação divina, permitindo que a verdade seja acessível e compreendida ao homem. Entretanto, é importante reconhecer que a acomodação não compromete a veracidade das mensagens transmitidas. Ela ilumina a verdade e permite que o conhecimento humano se aproxime do divino, mesmo que de maneira limitada e parcial.

Diversos exemplos de acomodação podem ser encontrados na Bíblia Sagrada, como nas passagens que fazem referências ao Antigo Testamento no Novo Testamento, usando trechos com sentidos diferentes ou modificados. Um caso notável é a citação de Jeremias 31.15-17 em Mateus 2.17,18, que apresenta uma aplicação específica ao contexto do nascimento de Jesus.

É importante perceber que a acomodação também é observada na filosofia, onde os meios de conhecimento das coisas, como o empirismo, o racionalismo, a intuição e o misticismo, fornecem visões testemunhadas da verdade, sem alcançar cenas completas e precisas.

Portanto, ao estudar e interpretar textos teológicos, é essencial estar consciente da acomodação linguística utilizada, reconhecendo a profundidade dos símbolos e metáforas empregados para transmitir a revelação divina. Isso nos lembra que, embora busquemos a verdade, ainda a enxergamos através de um espelho enevoado, razão pela qual nos acomodamos humildemente confiantes na busca pelo conhecimento espiritual e intelectual, sabendo que há sempre mais a aprender.

Que a compreensão da acomodação linguística na comunicação divina nos permita abordar a Palavra de Deus com maior discernimento e sabedoria, apreciando a profundidade e a riqueza de significados contidos em textos sagrados. Que nosso caminho de estudo seja guiado pela busca incessante da verdade e pela humildade em reconhecer nossa limitação diante do conhecimento divino infinito.

Comparações entre o Velho e Novo Testamento

Gn 15.5, em Rm 4.18. Gn 15.6, em Rm 4.3. G13.6 e Tg 2.23. Gn 18.10, em Rm 9.9. Êx 9.16, em Rm 9.17; Lv 11.45, em lPe 1.16; Js 1.5, em Hb 13.5; ISm 21.6, em Mt 12.3,4; Mc 2.25,26 e Lc 7.3,4; lRs 14.14.18, 3em Rm 11.3,4; Sl 19.4, em Rm 10.18. SI 34.12-16, em 1Pe 3.10-12; SI 78.3, em Mt 13.35; Pv 10.12, em lPe 4.8. Is 52.7 e Na 1.15, em Rm 10.15; Is 52.11,12, em 2Co 6.17; Jr 31.15, em Mt 2.17,18; Hc 2.4, em Rm 1.17; J1 2.32, em Rm 10.13; Ml 1.2,3, em Rm 9.13).

Naturalmente, alguns intérpretes procuram eliminar a teoria da acomodação, no tocante a muitas dessas referências, especialmente quando estão envolvidos elementos proféticos.